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Entrou no arvoredo e foi logo rodeado por uma tropa de anões, cambaios e cabeçudos, cada qual melhor para galhofa, e todos em piruetas e mesuras, fandangueiros e volantins, pulando como aranhões, armando lutas, fazendo caretas impossíveis para rostos de gente...

Porém o paisano meteu o peito neles e passou, sem nem sequer um ar de riso no canto dos olhos...

E com este, que era o último, contou os sete passos das provas.

E logo então, aqui, surdiu-lhe em frente o vulto de face tristonha e branca, que, certo, lhe andara nas pisadas, de companheiro — sem corpo — e sem nunca lhe valer nos apuros do caminho; e tomou-lhe a mão.

E Blau Nunes foi seguindo.

Por detrás de um cortinado como de escamas de peixe-dourado, havia um socavão reluzente. E sentada numa banqueta transparente, fogueando cores como as do arco-íris, estava uma velha, carquincha e curvada, e como tremendo de caduca.

E segurava nas mãos uma varinha branca, que ela revirava e tangia, e atava em nós que se destorciam, ficando sempre linheira.

— Cunhã, disse o vulto, o paisano quer!

— Tu, vieste; tu, chegaste; pede, tu, pois! respondeu a velha.

E moveu e ergueu o corpo magro, dando estalos nas juntas e levantou a varinha para o ar; logo o condão coriscou por sobre ela uma chuva de raios, mais que como num temporal desfeito das nuvens carregadas cairia. E disse:

— Por sete provas que passaste, sete escolhas dar-te-ei... Paisano, escolhe! Para ganhar a parada em qualquer jogo;...