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Assim que chegou à reboleira do mato, tão sua conhecida e recordada, e como chegou, deu de cara com o vulto de face branca e tristonha, o sacristão encantado, o santão.

Ainda desta vez, como era ele que chegava, a ele competia louvar; saudou, como da outra:

— Laus’Sus’Cris’!...

— Para sempre, amém! respondeu o vulto.

Então Blau, de a cavalo, atirou-lhe ao* pés a onça de ouro, dizendo:

— Devolvo! Prefiro a minha pobreza dantes à riqueza desta onça, que não se acaba, é verdade, mas que parece amaldiçoada, porque nunca tem parelha e separa o dono dos outros donos de onças!... Adeus! Fica-te com Deus, sacristão!

— Seja Deus louvado! disse o vulto e caiu de joelhos, de mãos postas, como numa reza.

Pela terceira vez falaste no Nome Santo, tu, paisano, e com ele quebraste o encantamento!... Graças! Graças! Graças!...

E neste mesmo instante, que era o da terceira vez que Blau saudava no Nome Santo, neste mesmo momento ouviu-se um imenso estouro, que retumbou naquelas vinte léguas em redor; o Serro do Jarau, tremeu de alto a baixo, até as suas raízes, nas profundas da terra, e logo em cima, no chapéu do espigão, apareceu, cresceu, subiu aprumo-se, brilhou, apagou-se uma língua de fogo, alta como um pinheiro, apagou-se e começou a sair fumaça negra, em rolos grandes, que o vento ia tocando para longe, por cima do encordoado das coxilhas, sem rumo feito, porque a fumaceira inchava e desparramava-se no ar, dando voltas e contravoltas, torcendo-se, enroscando-se em altos e baixos, num desgoverno, como uma tropa de gado alçado, que espirra e se desmancha como água passada em regador...

Era a queima dos tesouros da salamanca, como dissera o sacristão.