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mil onças de ouro... e que tudo isto cabia folgado dentro de um formigueiro pequeno...

Caíu a serenada silencioza e molhou os pastos, as azas dos passaros e a casca das frutas

Passou a noite de Deus e veiu a manhã e o sol encoberto.

E tres dias houve cerração forte, e tres noites o estancieiro teve o mesmo sonho.

 
 

A peonada bateu o campo, porem ninguem achou a tropilha e nem rastro.

Então o senhor foi ao formigueiro, para ver o que restava do corpo do escravo.

Qual não foi o seu grande espanto, quando chegando perto, viu na boca do formigueiro o Negrinho de pé, com a pele liza, perfeita, sacudindo de si as formigas que o cobriam ainda!.. O Negrinho, de pé, e ali ao lado, o cavalo baio e ali junto, a tropilha dos trinta tordilhos... e fazendo-lhe frente, de guarda ao mesquinho, o estancieiro viu a madrinha dos que não a tem, viu a Virjem, Nossa Senhora, tão serena, pouzada na terra, mas mostrando que estava no céu... Quando tal viu, o senhor caíu de joelhos deante do escravo.

E o Negrinho, sarado e rizonho, pulando de em pêlo e sem redeas, no baio, chupou o beiço e tocou a tropilha a galope.

E assim o Negrinho pela ultima vez achou o pastoreio. E não chorou, e nem se riu.

 
 

Correu no vizindario a nova do fadario e da triste morte do Negrinho, devorado na panela do formigueiro.

Porem logo, de perto e de lonje, de todos