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Mas, o lunar de Sepé
Era o rastro procurado
Pelos vassalos dos Reis,
Que o haviam condenado:...
Ficando o povo vencido...
E seu haver... conquistado!

Então, Sepé, foi erguido
Pela mão do Deus — Senhor,
Que lhe marcara na testa
O sinal do seu penhor!...
O corpo ficou na terra...
A alma, subiu em flor!...

E subindo para as nuvens,
Mandou aos povos — benção!
Que mandava o Céus — Senhor
Por meio do seu clarão...
E o — lunar — da sua testa
Tomou no céu posição...

Eram armas de Castela
Que vinham do mar de além;
De Portugal também vinham
Dizendo, por nosso bem:
Mas quem faz gemer a terra...
Em nome da paz não vem!

Esta melopéia (?), ouvi-a em 1902, sofrivelmente recitada por uma velhíssima mestiça — Maria Genoria Alves — moradora na picada que atravessa o rio Camaquã, entre os municípios de Cangussu e Encruzilhada.

Aparte as deturpações aberrantes dos vocábulos e a difícil colocação, concatenada dos versos, conservei a forma original, difusa, opaca e, do mesmo passo ingênua e amorável, dentro da qual porém, sente-se que estremece uma idealização, tendente a aureolar a figura do chefe índio, superiorizando-a por um signo misterioso — o lunar — , mandado divino...

Deixei de parte alguns versos cujo sentido disforme e expressão eram de impossível entendimento e acomodação neste grupo. Relembrança popular do heróico guarani é esta (e procedência?...) a única que até hoje hei encontrado em não pequena perambulação.