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O Caapora

 

É um espírito com forma de homem, gigante, peludo e muito tristonho, que comanda as varas de porcos do mato e anda sempre montado sobre um deles.

Quem topar com o Caapora daí em diante arrastará consigo a infelicidade (caiporismo), para todo o resto da sua vida; se era bom torna-se mau caçador, pescador; dará topadas no caminho, espinhar-se-á nas roçadas, perderá objetos, andará atrasado, apoquentado...

Os animais domesticados também sentem a sua má influência, e entecarão, terão gogo, sofrerão bicheiras... No entanto o Caapora protege a caça bravia dos matos.


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O Curupira

 

É o espírito malfazejo do mato, que enreda os trilhos do caminho para enganar os andantes e sugar-lhes o sangue.

Andam sempre em casal e moram no oco dos paus de lei; aparecem de repente, fazem os seus embustes e escondem-se, à tocaia, rindo-se em silêncio.

O Curupira é como um tapuio pequeno; tem os dentes verdes e os pés colocados às avessas.

Quando perseguido pelo curupira, o melhor meio de fugir-lhe é atirar-lhe e ir deixando pelo caminho cruzes e rodilhas de cipó, entrançadas; ele entretém-se a examinar o achado e a destrançá-lo, e enquanto isso, o perseguido escapa-se.


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O Sací

 

Era um caboclinho, dum pé só, muito ájil,