Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/108

Wikisource, a biblioteca livre

“Fernando!”—­proseguiu D. Leonor—­“jura-me ainda uma vez que serás sempre meu, como eu serei sempre tua.”

Dizendo isto, affastou-o brandamente de si.

“Juro-t’o uma e mil vezes pela fé de leal cavalleiro que até hoje fui. Juro-t’o pelo ceu que nos cobre. Juro-t’o pelos ossos de meu nobre e valente avo, que àlli dorme juncto ao altar-mór da sé, debaixo das bandeiras infiéis que conquistou no Salado. Juro-t’o por mais que tudo isso: juro-t’o pelo meu amor!”

“Bem está, rei de Portugal!—­atalhou D. Leonor.—­Agora só uma cousa me resta para te pedir. Não é favor; é justiça.”

“Não me peças Lisboa, que essa sabe Deus se tornará a ser minha, rica, povoada e feliz como eu a tornei, ou se repousarei ainda a cabeça nestes paços de meus antepassados, passando por cima das ruinas dela! Não me peças Lisboa, que talvez ámanhan deixe de me chamar seu rei: do resto de Portugal pede-me o que quizeres.”

“Quero que me dês as minhas arrhas: quero o preço do meu corpo, segundo foro de Hespanha.”

“Villa-viçosa é alegre como um horto de flores, e Villa-viçosa dar-t’a-hei eu. O casteilo d’Obidos é forte e roqueiro: são numerosos e