Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/129

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o do peão, e se também a sua bôca não póde golfar sangue como a de um pobre villão.”

D. João forcejava por desasir-se do alfaiate, procurando levar a mão á cincta onde tinha o punhal; mas Fernão Vasques era mais forçoso, e o conde já tinha entrado na idade em que costuma minguar a robustez do homem. Não pôde chegar com a mão ao cincto.

“Conde de Barcellos:—­proseguiu o alfaiate com um sorriso—­não recorraes a esse argumento; porque eu também estou habituado a lidar com ferros azerados, ainda que mais delgados e curtos que o vosso bulhão.”

Estas ultimas palavras, dictas em tom de escarneo, mal foram ouvidas: a grita na praça era já espantosa; as injurias, as pragas, as ameaças, cruzando-se nos ares, produziam aquelle rouco e grande brado da fúria popular, que só tem semelhança com o ruído de tufão abysmando-se por cavernas immensas.

Os fidalgos e letrados tinham rodeado os dous contendores; os parciaes de D. Leonor o conde; os outros, cujo numero era muito maior, o alfaiate. E tanto estes como aquelles trabalhavam em apazigua-los, posto que todos os animos estivessem quasi tão irritados como os dos dous contendores.

Finalmente o conde cedeu. O aspecto da