Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/164

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“No vosso, mestre Gil das Leis!—­interrompeu o conde de Barcellos.—­Nem o receio das affrontas do alguns milhares de sandeus, nem o da propria morte me obrigaria a cuspir maldicções sobre o nome daquelle a quem uma vez jurei preito e leal menagem.”

“Viram impendere vero nemo tenetur”—­replicou Gil d’Ocem—­“ou, como quem o dissesse por linguagem, ninguém é obrigado a deixar-se matar por amor da verdade ou de seu preito. Vós fazei o que vos aprouver.”

Á auctoridade de um texto latino trazido assim a ponto por um tão insigne doutor, não havia resistir. Os fidalgos e conselheiros approvaram quasi unanimente o alvitre de Diogo Lopes.

“Mas quem ha-de falar ao povo?—­insistiu o mestre em leis, que não parecia excessivamente inclinado a incumbir-se dessa gloriosa tarefa.

“Eu, se assim o quizerdes”—­replicou immediatamente Diogo Lopes.

O manhoso cortesão vira claramente que a partida d’elrei transtornava todos os seus desenhos: todavia calculára n’um momento como, sem suscitar a indignação de Fernão Vasques, e por consequencia alguma revelação perigosa, podia salvar-se e ao infante. Logo que elrei se esquivára