Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/28

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personagem—­Muulin, o pobre fakih [1] penitente e quasi cego de chorar as proprias culpas e as culpas dos homens, mas a quem Deus por isso illumina ás vezes os olhos da alma para antever o futuro ou ler no fundo dos corações. Li no vosso, homens de sangue, homens de ambição! Sereis satisfeitos! O senhor pesou na balança dos destinos a ti, Abdallah, e a teu irmão Al-hakem. Elle foi achado mais leve. A ti o throno; a elle o sepulchro. Está escripto. Vae; não pares na carreira, que não te é dado parar! Volta a Kortheba. Entra no teu palacio Merwan; é o palacio dos kalifas da tua dynastia. Não foi sem mysterio que teu pae t’o deu por morada. Sobe ao sotam [2] da torre. Ahi acharás cartas do kaid de Chantarya, e dellas verás que nem elle, nem o wali de Zarkosta, nem os Beni-Hafsun faltam ao que te juraram!”

“Sancto fakih—­replicou Abdallab, crédulo como todos os musulmanos daquelles tempos de fé viva, e visivelmente perturbado—­creio o que dizes, porque nada para ti é occulto. O

  1. Fakih ou faquir, especie de frade mendicante entre os musulmanos.
  2. Sotuko—­o andar mais alto. Os nossos escriptores tomavam esta palavra n’um sentido evidentemente errado, servindo-se delia para indicar o aposento inferior ou térreo.