Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/29

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passado, o presente, o futuro domina-los com a tua intelligencia sublime. Asseguras-me o triumpho; mas o perdão do crime podes tu assegura-lo?”

“Verme, que te crês livre!—­atalhou com voz solemne o fakih.—­Verme, cujos passos, cuja vontade mesma, não são mais do que frageis instrumentos nas mãos do destino, e que te crês auctor de um crime! Quando a frecha despedida do arco fere mortalmente o guerreiro, pede ella acaso a Deus perdão do seu peccado? Atomo varrido pela colera de cima contra outro atomo, que vaes aniquilar, pergunta antes se nos thesouros do Misericordioso ha perdão para o orgulho insensato!”

Fez então uma pausa. A noite descia rapida. Ao lusco-fusco ainda se viu sair da manga do albornoz um braço felpudo e mirrado, que apontava para as bandas de Cordova. Nesta postura a figura do fakih fascinava. Coando pelos lábios as syllabas, elle repeliu tres vezes:

“Para Merwan!”

Abdallah abaixou a cabeça, e partiu vagarosamente, sem olhar para traz. Os outros sarracenos seguiram-no. El-Muulin ficou só.

Mas quem era este homem? Todos o conheciam em Cordova; se vivesseis, porém,