Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/154

Wikisource, a biblioteca livre

se, disse mea culpa, e começou sua confissão.

Se isto fosse uma historia de polpa, cortesan e culta, viria neste ponto o casus foederis de eu tomar a postura tragica a la moda, carregando as sobrancelhas, e dizendo em tom soturno e lento:—­“O que ahi se passou entre o veneravel ancião e a donzella ninguem o soube!—!—!—!—­Mysterio!—!—!—! Acontecimento horrivel e fatal!—!—!—! As lagrymas ardentes do velho caíram sobre a cabeça da infeliz ajoelhada a seus pés, cujo futuro (não o dos pés, mas o da infeliz) era de maldicção!—!—!—!” Limitada, porém, a minha narrativa a chan e plebéa recordação de um pobre parocho d’aldeia, reflectirei em summa, que me não é licito revelar o segredo do confessionario. Os sigillistas já deram que fazer ao marquez de Pombal, cuja consciencia, como todos sabem, era delicadissima em materias de orthodoxia catholica, e em tudo. Calo-me, porque não quero caír no erro que elle condemnou. Direi só que foi mui demorada a confissão de Bernardina, e que, ao alevantar-se d’ante os pés do prior, ella trazia os olhos como punhos: e digo-o, porque o viram os circumstantes, a saber, o sacristão e a senhora Perpetua Rosa, que devotamente ía descabeçando