Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/193

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Tal reparo antevejo eu que me ha-de ser feito pelos pensadores da nossa terra, por estas ou por outras palavras. Respondo—­o que escrevi escrevi. A primeira vez que puz os olhos naquelles bonitos versos do Child Harold, impei. Fui vivendo e lendo, e affiz-me ás injurias de estranhos. Livros, jornaes serramadeiras, jornaes populares, jornaes atoalhados, jornaes lençoes, em se tocando em Portugal, sancta Barbara, advogada dos trovões, nos acuda! Fervem as calumnias, os motejos, as accusações de todo o genero; o que inquestionavelmente é grande, é nobre, é generoso! O dar é assim!—­n’uma nação cuja lingua, pouco conhecida na Europa, torna impossiveis as represalias. E se fosse a verdade só! Muitas verdades amargas nos poderiam dizer, como se podem dizer a todas as nações do mundo; mas a calumnia tem mais pilheria; e Portugal é um thema em que até os inglezes querem ter graça! Os francezes ainda alguma vez por engano nos fazem justiça: elles nunca. Em Inglaterra não ha nenhum tolo que não faça um livro de tourist, nenhum architolo que não o faça sobre Portugal: estes livros e os sermões constituem o grosso da sua litteratura. [1] Assim, oh

  1. Não me persuado de que nenhum leitor tome ao pé da letra este brinco litterario. A Inglaterra é uma grande nação, e possue no seu gremio muitos homens honestos, sabios, e por todos os modos respeitaveis. Mas a essa classe não pertencem por certo aquelles, que, propondo-se illustrar o povo, escrevem ácerca de uma pobre nação, que nunca os offendeu, toda a casta de absurdos e mentiras insulsas.