Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/220

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da população. Ahi existem innumeraveis monumentos dessas epochas desastrosas: que appareça um só por onde se prove que o desalento popular buscasse conforto no vinho e aguardente. Pois, cá, o remedio não era caro! O que achâmos são as preces, as romarias, as procissões, as lagrymas, os votos, o sentimento exaltado da confiança e da resignação na Providencia. Achâmos a pequena differença que vae de um christão a um bruto.

“E os irlandezes?”—­Oh, bem sabemos que os irlandezes, catholicos como nós, na sua miseria monstruosa têm cahido, se é possivel, ainda mais fundo que os inglezes. Mas, em rigor, esses catholicos na intenção e na crença podem acaso sê-lo no culto que aviventa o espirito? Onde lhes deixou o protestantismo os seus templos, os seus sacerdotes, os seus costumes religiosos? O vulgacho irlandez é o argumento mais dolorosamente persuasivo da necessidade dessas festas, dessas alegrias, dessas fórmas materiaes do culto. Sem ellas, o catholico miseravel embrutece-se como o miseravel protestante; e o seu embrutecimento vem, por outra parte, recordar-nos de que não é possivel achar um nome, que qualifique devidamente o descaro com que o anglicanismo, inquisidor implacavel e tenaz de tres seculos, nos lança em rosto as trinta mil