Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/240

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felizes! O contador ficava defronte, e ao lado um bofete, e sobre o bofete um oratorio forrado de damasco amarello com sanefa encarnada. Sete sanctos povoavam o larario da defuncta moleira: S. Servulo, Sancto Onofre, S. Miguel, S. Sebastião, S. Gregorio, Sancto Antonio, e S. João Baptista; este ultimo no centro e em peanha mais elevada; Sancto Antonio á sua direita, com um cordão de ouro lançado ao pescoço e dando multas voltas ao redor do corpo. Como supplemento, por cima da cabeceira da cama, uma lamina da Senhora da Conceição, e dous registos, um de Sancta Barbara, outro de Sancta Rita; no tardoz da porta uma cruz de S. Lazaro pregada com massa. Uma arca da India, com ferrolho de correr e pregaria de grandes cabeças chatas de duas pollegadas de diametro, e quatro cadeiras de costas e assentos de couro lavrado completavam a mobilia do aposento. No canto do bofete, quasi á borda, estavam cravados um cruzado-novo e um tostão falsos, memorias dolorosas de um mono que pregára certo padeiro de Lisboa ao moleiro, na compra de uns saccos de farinha, historia, que, se eu a contasse, havia de fazer arripiar o pello aos leitores mais do que as novellas de Anna Radcliffe.

“Dez centos de mil réis! Chumba-lhe!”—­