Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/275

Wikisource, a biblioteca livre

a morder na pelle por causa de lacunas, mysterios, ou contradicções nas minhas narrativas. Menos isso. A historia é a historia, e não se hão-de deixar por aqui e por alli obscuridades e incertezas, que façam suar o topete ás academias futuras: muito mais que ha ahi uns quidams, cujo officio é esmiuçar, anatomisar e criticar os escriptos alheios, e que lhes fazem os mais crueis e desalmados processos verbaes, que é possivel imaginar, não lhes escapando periodo nem linha, ponto nem virgula. Critica rosnada pelos cantos é a destes, semelhante ao bisbilhotar da cozinheira com a creada da vizinha, á janella do saguão, sobre os talhos que a ama deu ao presunto, ou sobre o mais ou menos acogulado da medida dos feijões fradinhos. É por isso que a taes criticas chamo eu verbaes; verbaes, porque seus auctores d’ahi não podem passar. Coitados! escreveriam vinte heresias se copiassem o padre-nosso. São os alcaiotes dos lapsus linguæ, os mexeriqueiros dos actos de memoria. No vento e com vento compõem: vivem de epigrammas agudos como tranca: morrem sem deixar vestigio. Litteratos a barbas enxutas, eruditos lendo ainda por baixo, passam nas trevas como a coruja; mas bem como a coruja roçando as azas, que salpicou na alampada, pela alva toalha do