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O BISPO NEGRO.
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nha fé que devo a Christo, e a minha obediencia que guardarei ao papa.”

“D. Bernardo! D. Bernardo!—­disse o principe suffocado em colera—­lembrae-vos de que affronta que se me fizesse, nunca ficou sem paga!”

“Quereis, senhor infante, soltar vossa mãe?”

“Não! Mil vezes não!”

“Guardae-vos!”

E o bispo saíu sem dizer mais palavra. Affonso Henriques ficou pensativo por algum tempo; depois falou em voz baixa com Lourenço Viegas o Espadeiro, e encaminhou-se para a sua camara. D’ahi a pouco o alcacer de Coimbra jazia, como o resto da cidade, no mais profundo silencio.


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Pela alvorada, muito antes de romper o sol no dia seguinte, Lourenço Viegas passeava com o principe na sala d’armas do paço mourisco.

“Se eu proprio o vi, montado na sua boa mula, ir lá muito ao longe, caminho da terra de Sancta Maria [1]! Na porta da sé estava pregado um pergaminho com larga escriptura, que, segundo me affirmou um clerigo velho que ahi

  1. Hoje Terra da Feira, proxima do Porto, na estrada de Coimbra.