Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/66

Wikisource, a biblioteca livre
62
O BISPO NEGRO.

chegára quando eu olhava para aquella carta, era o que elles chamam o interdicto.—­Isto dizia o Espadeiro, olhando para todos os lados, como quem receiava que alguem o ouvisse.

“Que receias, Lourenço Viegas? Dei a Coimbra um bispo que me excommunga, porque assim o quiz o papa: dar-lhe-hei outro que me absolva, porque assim o quero eu. Vem comigo á sé. Bispo D. Bernardo, tarde será o arrepender-te da tua ousadia!”

D’alli a pouco as portas da sé estavam abertas, porque o sol era nado, e o principe, acompanhado de Lourenço Viegas e de dous pagens, atravessava a igreja, e dirigia-se á crasta, onde ao som de campa tangida tinha mandado ajunctar o cabido, com pena de morte para o que ahi faltasse.



4


Solemne era o espectaculo que apresentava a crasta da sé de Coimbra. O sol dava com todo o brilho de manhan purissima por entre os pilares que sustinham as abobadas dos cubertos, que cercavam o pateo interior. Ao longo desses cubertos caminhavam os conegos com passos lentos, e as largas roupas ondeavam-lhes ao bafo suave do vento matutino. No topo da