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senhor, alistar-se na cáfila do famoso Zambi Cassange, era um cabra ainda muito novo, bem feito, bonito e reforçado, porém de má catadura. O outro era um pretinho magro e algum tanto idoso, velho quilombóla esperto e matreiro, jubilado em todas as artes e patranhas proprias para despojar os caminhantes e tropeiros, e alimpar as casas dos fazendeiros.

Naquelles tempos, na provincia de Minas, desde a serra de Mantiqueira até os confins dos terrenos diamantinos, era uma serie de quilombos, que erão o flagello dos tropeiros e dos caminhantes, e o terror dos fazendeiros. As milícias e os capitães do matto do governador, a despeito dos esforços que empregavão, erão impotentes para dar cabo delles. Erão como os formigueiros; se aqui extiginguia-se um, acolá organisava-se outro com os restos daquelle e com uma chusma de outros negros, que incessantemente fugião a seus senhores, certos de achar agazalho e vida regalada nos covís de seus parceiros quilombólas.

Perto da carrancuda e negra serrania da Itatiaya, distante como quatro leguas do Ouro-Preto, em um vasto grotão sombrio e profundo, coberto de espessíssima floreta, era o quilombo do famoso chefe Zumbi Cassange. Em grotão ou furna, que por um declive não muito rapido vae