Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/116

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Sobre o banco via-se um alguidar de barro de tamanho, contendo certa quantidade de milho pilado; junto do alguidar, um rapa-coco de ferro e alguns pratos ordinários. Dentro de um destes estava o coco, partido já em duas bandas, destinado a dar as rapas de que se devia extrair, pela expressão, o leite grosso e saboroso. O leitor entendido nos usos do norte há de ter compreendido por estas particularidades domésticas, que as duas mulheres se ocupavam em fazer o popular e apreciado mucunzá. Ficava de permeio entre uma e outra, o pilão que lhes dava pela cintura.

A quantidade de milho quebrado que se via dentro do alguidar, e o suor que aljofrava o rosto e as espáduas das mulheres, não obstante o tempo frio, revelavam que a caçula já ia puxada, ou antes, estava perto de acabar.

Lourenço, rodeando a casa, foi parar defronte da janela, onde se entregavam àquela ocupação culinária as duas mulheres.

— Ó de casa? disse ele.

Apenas estas palavras ressoaram dentro, as moradoras fizeram uma pausa, e cessou o batecum.

— Ó de fora - respondeu a mais velha, enquanto a mais nova, que estava oculta por trás da parede, estirou o pescoço, e com os olhos procurou ver quem era o hóspede. Tão depressa porém o viu como, deixando a sua mão de pilão metida no milho, deitou a correr