Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/132

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agradeceu-lhe a lembrança, o presente da despedida, e, para retribuir a fineza, apertou a rapariga ao peito, com vontade de a levar ao sertão, ao deserto, ao desconhecido, onde necessariamente devia precisar de uma companhia, ou antes de uma companheira que suavizasse os rigores da peregrinação.

As despedidas exercem grande influência na vida. Durante a jornada, Lourenço só pensava em Marianinha, chorosa e meiga por ocasião de lhe entregar o rosário e o brevezinho. Não foi uma nem duas vezes que teve vontade de chorar de saudade lembrando-se da menina, da mãe, do engenho, lembrando-se de tudo o que deixara, e que não sabia quando havia de tornar a ver. Foi assim, enternecido por lembrança tão grata e comovente, que ele chegou ao rancho do Cipó.

Mas Bernardina, aparecendo-lhe de improviso com uma alma benfazeja, filha do mato, criada na solidão, uma alma nova, não obstante ser sua conhecida da infância, aparecendo-lhe assim, quando ele menos esperava, ente uma fogueira - símbolo da paixão, e uma rede - símbolo do gozo, por uma noite de inverno - estação propícia ao aconchego, e sem outras testemunhas que os elementos mudos posto que traiçoeiros e irritantes, apagou com a sua imagem, rica de estímulos sensuais, a doce cena de amor inocente em que se deixara entrever a irmã com o recato da alma cândida, como apaga o pintor com o pincel ensopado