Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/134

Wikisource, a biblioteca livre

acalmou por um instante os ardores infrenes que o atiravam para imprevistos abismos, poderoso, porque o fez volver à rede, quando já ia passando de tempo. De fato, não se meteu um momento, que atravessou o terreiro, encaminhando-se à porta, que abriu, uma sombra em que Lourenço reconheceu a grosseira Manuela.

Lourenço não dormiu mais. Em seu espírito travou-se então uma luta fratricida - a luta das duas irmãs - uma que ressurgira depois de apagada, outra que perdera metade da sua grande força, logo que se achou defronte da primeira.

Que seria dele, solicitado por duas atrações iguais? Ficou sem dar um passo nem para um lado nem para outro. Tinha a inércia de um corpo pequeno entre dois maiores de igual grandeza. Mas se a vontade caíra nessa indecisão passiva, indecisão da criança, que, vendo ao alcance dois quadros sedutores, não sabe por qual deles se há de decidir, o seu espírito parecia incliná-lo para aquela que, a poucos passos de distância, ouvindo talvez o rumor dos seus movimentos, lhe havia despertado no coração alvoroços que se assemelhavam a chamas.

Perto do amanhecer a chuva cessou inteiramente. À claridade do dia, as condições do estado do almocreve modificaram-se consideravelmente. A realidade, eriçada de perigos, ressurgiu-lhe de novo aos olhos. Volvendo-os à baixada, avistou lá a rua de casinhas que