Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/135

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lhe avivou a idéia da quadrilha e do chefe, a que ele ia fugindo. Era tempo de deixar a ameaçadora pousada, por algumas horas tão hospedeira e carinhosa.

Mas partir sem ver Bernardina, sem lhe protestar estima recente, cujas raízes vinham do passado, sem receber, talvez, na despedida, uma daqueles sorrisos feiticeiros que, quando a menina cantava e dançava nos sambas, deixaram tantas vezes corações atravessados de desejos mais agudos que pontas de espinho, isto afigurou-se-lhe um tormento, um impossível. Ainda esteve um instante para bater à janela sob qualquer pretexto; mas, receando-se não ter forças para ausentar-se, se a rapariga lhe aparecesse, quando a sua salvação exigia rapidez no apartamento, dominou o desejo, e partiu.

Não tinha ainda perdido de vista a casa, quando, ao emparelhar-se com umas árvores sombrias e fechadas, virando-se para trás, viu vir descendo a rua do rancho a mulher que fizera companhia a Bernardina. Foi o caso que Manuela, tanto que percebera, pelo rumor das pisadas do cavalo, que Lourenço deixava a casa, se despediu de Bernardina e encaminhou-se à sua cabana.

Este incidente, com que o rapaz não contava, reacendeu-lhe o desejo de voltar. Sobresteve um instante, pensando. As árvores ocultavam-no inteiramente. Ele podia refletir por quanto tempo quisesse, sem receio de ser notada a sua presença.