Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/140

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— E comigo quer casar-se, Bernardina?

A rapariga, como se não ouvira a pergunta, ou como se fizesse que a não ouvira, nada respondeu.

— Diga, diga, insistiu Lourenço, sentindo rápido calafrio a percorrer-lhe o corpo.

— Pois você há de querer-me para sua mulher, Lourenço? respondeu ela enfim, a modo de quem via um impossível na idéia do rapaz.

— Faça de conta que eu quero, e responda então, tornou ele, cada vez mais empenhado em obter resposta decisiva.

O lugar onde estas coisas se passavam, tinha uma beleza suave, plana e ampla. De um e outra banda estendia-se um varjado, coberto de cajueiros novos, mangabeiras e araçazeiros bravos. Abaixava-se para o lado do ocidente, mas não perdia a sua natural decoração. O sol, que nascera havia pouco, lançava sobre a face dessas milhares de árvores, quase todas do mesmo tamanho, uma neblina de luz, que dando nas gotas de chuva ainda espalhadas nas folhas lisas, fazia sair dali uma imensa esteira de reflexos cristalinos. Dir-se-ia que a maior prodigalidade conhecida atirara por cima daquele extenso arvoredo todos os brilhantes que têm saído das minas do mundo. Era uma região nova, nitente, alegre, fresca, paradisíaca. Lourenço parou o cavalo, e voltou-se para encarar a rapariga, que com um dos braços lhe cingia o corpo. Todo o sentimento dos dezoito anos,