Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/149

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sabia que com ela estava amasiado o Tunda-Cumbe, e para prestar serviço a este, por baixa adulação, resolvera levá-la à casa.

Em vão Bernardina estorcia-se e forcejava para romper a sua cadeia; em vão carpia, arrastando-se pelo chão, a sua desgraça extrema; em vão pedia socorro, em altas vozes, rogando que não matassem Lourenço, e protestando a inocência dele.

Dessa tribulação veio arrancá-la um estrupido vasto, medonho, após um tiro que ressoara na imensa solidão. A larga margem do rio estremeceu, com uma onda sonora no interior: os terremotos devem produzir o som cavernoso que saiu naquele instante do chão rudemente percutido. Quem não soubesse o que era, julgaria que um cataclismo, revolvendo as entranhas da terra, ia abrir covas profundas, goelas tenebrosas que imediatamente se iluminariam, deixando passar fogo e lavas abrasadoras. O tiro tinha sido dado por Andorinha contra Lourenço; o ruído subterrâneo não fora produzido senão pela corrida da boiada que arrancara da beira do rio, espantada pela detonação do tiro.

Foi então tudo confusão e burburinho. O fato de arrancar uma boiada é vulgar para os que conhecem a vida sertaneja; mas sempre infunde pavor, ainda nos que melhor sabem esta feição daquela vida. Quando uma boiada arranca, uma boiada de duzentas a trezentas cabeças, pouco depois de ter