Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/154

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— Já conhecestes para quanto presto, caneludo, moleirão, que só tens parolas e desaforos? disse Pedro de Lima, arrastando por uma perna Lourenço ao meio da trilha onde a lama quase o afoga. Eu bem disse que este cabra não servia para nada.

E porque, através da mutilada camisa do rapaz tomado de mortal delíquio, lhe descobriu o cinto em torno da barriga, imediatamente o cortou, supondo que trazia dinheiro. O que encontrou foi a luva de couro, dentro da qual estava o papel de doação. Indignado por ter sido iludido em sua cobiça, ia cravar o facão no peito de Lourenço, quando sentiu o braço preso por uma vigorosa mão. Viu então, ao seu lado um homem calçado de botas, vestido de preto, com um chapéu de palha na cabeça: era o dono da boiada. Junto dele estava um dos tangerinos e um negro, que minutos antes haviam passado o rio.

Logo que deu com os olhos no primeiro dos novos personagens, Pedro de Lima abrandou a raiva e a arrogância, mostrando-se outro que ninguém diria ser o mesmo.

— Vosmecê me perdoe, seu João Mateus - disse, em tom respeitoso, ao fazendeiro. Há muito que eu tinha umas contas a ajustar com este pé-rapado, que sempre foi muito confiado, e parecia não fazer caso de ninguém. O pior é que, cuidando que ele trazia algum gimbo, só encontrei no cinto magro este papel metido num pedaço de couro velho. Parece que é