Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/155

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um patuá para livrar de arma e de prisão; mas o cabra não tem fé, que o patuá não lhe valeu, e ele fica bem castigado.

Assim falando, Pedro de Lima passou o papel de doação ao fazendeiro que, como se vira nos caracteres ali traçados, uma escritura cabalística e maldita, deu um grito - mistura de espanto e consternação, volvendo rápidas vistas a Lourenço. Pedro de Lima e Manoel Hilário, a quem este gesto não escapara, puseram os olhos em cima do fazendeiro, em ar de quem interrogava.

— É uma oração... Não, é uma oração... São palavras diabólicas as que estão aqui escritas, disse-lhes o fazendeiro. Se vosmecês soubessem ler, haviam de reconhecer que este papel tem coisas infernais. Coitado de quem o trazia.

E com gesto nervoso despedaçou o papel, dando mostras de forte comoção, que aumentava de instante a instante.

— Mas - acrescentou logo - que querem ainda vosmecês fazer deste infeliz? Está moribundo, se ainda não morreu. Deixem-no comigo. "Não matarás", disse Deus por boca de Moisés aos Hebreus; e esta sentença é hoje um dos primeiros preceitos da Cristandade. Quererão vosmecês ainda matar alguém que já está quase morto?

O semblante do fazendeiro tinha adquirido feições tão particularmente severas e tristes, que não só os