Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/160

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dinheiro. O vaqueiro Valentim ficara na fazenda; com João Mateus iam seis tangedores, entre os quais um de nome Cipriano, rapaz de excelente coração, trabalhador e sossegado. Depois que comprara a fazenda era a primeira vez que arredava dali o pé o dono dela. Quando chegaram à beira do rio, começavam a atravessá-lo os três malfeitores que sabemos.

Os tangedores tocaram os bois para água, e iam estes pelo meio do rio, quando soou o primeiro tiro, o que fora disparado por Pedro Lima; e conquanto as boiadas não arranquem de dentro da água, ficaram as reses tão espantadas, que, com a detonação do segundo tiro, quando já estavam da outra banda, deitaram a correr. Quatro dos tangedores seguiram a boiada praticando esforço, gritando aos animais, a fim de os conterem; dos outros dois, um sabedor das proezas dos malvados - deixou-se ficar com o negro ao pé do fazendeiro, para o defender se fosse preciso; o outro - Cipriano - condoendo-se de Bernardina, correra a salvá-la, sem que o vissem os malfeitores. Quanto a João Mateus, resolvera ir em socorro de Lourenço, parte fraca. Posto que o não conhecesse, a nobreza dos seus sentimentos sugeriu-lhe este procedimento; e foi assim que se achou tão a ponto de livrar o moribundo da fúria dos bandidos.

O fazendeiro tomou Lourenço nos braços com especial expressão de dó. De instante a instante escapavam-lhe dos lábios palavras repassadas de mágoa e aflição: