— Que quero? tornou o moribundo. Quero agradecer-lhe a sua bondade, "seu" padre. Estou para morrer, mas ainda me lembro do que vosmecê me fez no Cajueiro, do ensino que me deu, e das terras e casa...
E como estas palavras lhe avivassem uma lembrança obliterada inteiramente, procurou, ainda que com dificuldade, na cintura, o cinto de algodão que sempre trazia consigo.
— Os ladrões até me tiraram o papel... o papel que vosmecê, "seu" padre, deixou em mãos de minha mãe... Roubaram o meu papel...
— O teu papel agora, Lourenço, é o que cumpre a todo bom cristão. Estou pronto a ouvir-te.
Terminada a confissão, o padre dirigiu estas palavras ao penitente:
— Se Deus se lembrar de ti, e te sarar, imponho-te que a ninguém reveles o meu segredo.
— "Seu" padre, a ninguém direi quem é vosmecê; mas meu coração estará a dizer-me, a todo instante, que vosmecê é "seu" padre Antonio, aquele que me ensinou a ler, que me deu muitos conselhos, que ajudou meus pais a fazerem de mim gente, que me deu a casa e as terras do Cajueiro, que tem sido para mim um segundo pai.
— Lourenço, o padre Antonio fugiu, e ninguém sabe onde ele se meteu. Quem está aqui, neste homem que vês, de barbas e cabelos compridos, magro e taciturno, mas conformado com a sua sorte, é o fazendeiro João Mateus. Estás ouvindo?