Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/165

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— Pode vosmecê descansar.

— Agora pega-te com Deus, e repousa.

Desaparecendo na porta que dava para o aposento secreto, o padre foi dizendo consigo estas palavras:

— Podes agora comparecer perante o Supremo julgador dos homens. O teu dever de cristão e o meu de sacerdote estão cumpridos.

Lourenço porém não estava destinado a acabar obscuramente, no seio daquela solidão agreste de poucos conhecida. Dentro de alguma semanas, graças à solicitude do padre e de Bernardina, começou a sair da região da vida que parece pertencer aos domínios da morte, tão confuso e sombrio é o seu horizonte, tão longo o crepúsculo que aí reina. As forças voltavam-se lentamente, por fios tenuíssimos ao princípio, por mais grosso canais depois, que lhe traziam ao coração e o cérebro a riqueza do seu antigo ânimo.

Uma manhã, o padre, que penetrara a forte inclinação de Lourenço por Bernardina, levantou-se muito cedinho, como de costume, e encaminhou-se ao curral das vacas, onde encontrou já Cipriano tirando leite. Imediatamente mandou chamar Bernardina para ajudar o vaqueiro no serviço.

Logo que chegou a rapariga, disse o padre a Cipriano:

— Dize-me cá uma coisa, Cipriano: que idade tens?