Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/170

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filha da sua coragem e da sua caridade, que não teve expressões para manifestar exatamente quanto ficara cativa dele.

Arrancando-a, para que assim o digamos, das mãos do perverso, ele não a livrar somente do Tunda-Cumbe, cujo despotismo já não podia sofrer; ele seguira com ela através de matos, atravessara águas impetuosas, e sem o menor indício de a querer aviltar, trouxera-a respeitosamente até a casa da fazenda. Por muito menos têm-se visto acender-se paixões imortais; e tudo leva a supor que no coração da matuta alguma dessas sublimes paixões teria origem, se não se interpusesse entre o vaqueiro e ela o vulto de Lourenço. Este vulto era simpático à menina por mais de um motivo. Ela conhecia Lourenço desde a sua infância e voltava-lhe afeição fraternal, quando foi roubada pelo Tunda-Cumbe.

O sentimento fraternal não era contudo o que ela aninhara no coração depois que Lourenço, revelando a sua paixão, dera mostras de lhe dedicar especial afeto. A rapariga pouco e pouco habituara-se a querer bem ao rapaz de modo diferente. Em sua longa enfermidade esse bem aumentara. A dor aproxima as almas irmãs. Ela sofria com o sofrimento da vítima.

Ao princípio escrupulizara amar Lourenço. "Lourenço pertence a Marianinha", dissera-lhe a consciência em sua linguagem muda, imperiosa. Mas