Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/174

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Estas palavras exprimiam tão exatamente a verdade, que Bernardina não teve que retorquir ao padre, em resposta. Inclinou a cabeça, cravou as vistas no chão e dali a pouco as lágrimas começaram a apontar-lhe nos olhos.

— Não chore, minha filha - disse o padre Antonio. Você ficará morando aqui ao pé de mim. Do que eu comer, vocês hão de comer também. Servir-me-ão de companhia neste deserto, e eu guiá-los-ei na vida, cujos caminhos são tão difíceis e enredados. Em Deus fio que havemos de ter aqui a tranqüilidade de espírito, e paz do Senhor, que em vão se buscaria nestas terras, que o vento da anarquia tem revolvido, e continua a revolver.

O padre, como se considerasse vencida a dificuldade do lado de Bernardina, encaminhou-se para o quarto onde estava Lourenço; era preciso destruir ali o outro obstáculo, porventura mais forte que o primeiro. Mas, sem desanimar, antes fortificado com a vitória ganha, ele tinha quase por certo que igual vitória ganharia. Refletiu alguns instantes em silêncio, antes de penetrar no aposento do enfermo.

Lourenço estava sentado na cama, quando o padre entrou.

Pensava precisamente em Bernardina, em quem o seu espírito andava absorvido.

Tinha terminado a primeira refeição, e ficara encostado à parede, os olhos voltados para a natureza que, pela janela,