Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/183

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— Tudo o que existe no engenho, de porteiras para dentro, pertence à coroa, respondeu o oficial que dirigia a execução judicial. De tudo o que os rebeldes deixam, as suas viúvas somente herdam a má fama.

— Vamos, Marcelina, disse D. Damiana, com decisão, voltando-se à cabocla.

E caminhou-se à porta, por entre a turba, que sem intenção, se abriu a fim de lhe dar passagem. Por algum tempo aqueles homens ordinariamente bulhentos, não tiveram uma palavra das suas grosseiras e banais chacotas com que menoscabarem a solenidade de tão aflitivo momento.

Chegando embaixo, Marcelina disse à senhora de engenho:

— Se pudéssemos tirar um cavalo da estrebaria... Daqui ao Cajueiro é longe para vosmecê, sinhá D. Damiana. Como é que há de romper tanta distância a pé?

— Vamos assim mesmo, Marcelina. Nem eles nos deixariam tirar qualquer cavalo, nem os cavalos me pertencem mais. Vamos a pé. Havemos de chegar lá, ainda que seja com a noite ou com a madrugada. Demais, o Cajueiro não é tão longe, como dizes. Daqui uma hora, quando muito, estaremos lá.

A vida de D. Damiana no Cajueiro, ao princípio passada de amarguras quase incomportáveis, foi perdendo pouco a pouco o travo dos primeiros tempos. Não se demorou a resignação, devida em grande parte às condições