ministradas por Marcelina, que fazia tudo por adivinhar os pensamentos da sua nobre hóspede.
Uma vez, depois de certa fineza, a viúva falou nestes termos à cabocla:
— Marcelina, tu não nasceste para viver na pobreza; tu devias ser muito rica, e viver em palácio, tão nobre és nas tuas ações.
— Quer vosmecê que lhe diga uma coisa, sinhá D. Damiana? Dentro das casas de palha, na gente pobre, encontra-se muito bom coração.
Era a voz do povo que se erguia, sem floreios, em linguagem trivial, para responder à voz da nobreza vencida, mas não convencida.
A história da aludida fineza conta-se em poucas palavras.
Dois dias depois de estar no Cajueiro,a viúva de João da Cunha travou com ela, a mulher de Francisco, o seguinte diálogo:
— Eu sei - disse Marcelina - que vosmecê não passa bem aqui. A casinha é pequena e não é digna.
— Muda de conversa - respondeu-lhe D. Damiana. Que é que me falta? Vim até encontrar a tranqüilidade e a consolação que haviam fugido da casa grande.
— Vosmecê me perdoe, mas eu bem vejo as coisas. Por sua honra, vosmecê diz que está muito bem; mas pela minha também eu hei de dizer o que conheço.
— Estou muito bem, sim.