Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/186

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presença; mas, enquanto ele não chega, sua casa há de estar se enchendo de aranhas e de ratos, não é melhor estar servindo a quem já foi dono dela e das terras onde ela está, e que já morou e ainda há de morara em ricos palácios?

D. Damiana achou caminho na proposta, e aceitou-a com reconhecimento. E para que tudo saísse à feição, uma preta idosa, muito pegada com a viúva, e que fugira para o mato, por certo desgosto no engenho, vindo a saber as condições que estava a senhora, apareceu no Cajueiro logo depois da mudança desta para ali, onde aquela ficou. Com a nova companhia, D. Damiana passou-se para a casa do padre, continuando Joaquina e Marianinha a morar junto de Marcelina na palhoça que fora levantada entre a lagoa e a casa queimada.

Estavam as coisas neste pé, quando uma noite, por volta das oito horas, D. Damiana, ainda não recolhida ao seu quarto, sentiu ruídos de pisadas por perto da casa. Tinham-lhe dito que, sabedora de estar com ela a escrava Felícia, a autoridade viria tirá-la às escondidas do seu poder, a fim de adjudicá-la, com os outros bens, à coroa. Novos dissabores e novas inquietações para a infeliz viúva.

Era aquele o único benzinho de que estava de posse; era todo o seu haver. E porque na atualidade os serviços da escrava valiam pelo de cem escravos para a senhora de engenho, a idéia de lha tirarem trazia-a sobressaltada e agoniada.