Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/198

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deixava ver, como uma grande laje escalvada e negra, a casa grande do engenho.

— Ora, meu Deus! Como vim parar aqui?

Ficou um momento em silêncio, observando o lugar, combinando as idéias, buscando uma resolução.

Não tardou muito que lhe ocorreu um pensamento singular, e, na realidade, original - o de pernoitar na própria casa do engenho, que, conquanto seqüestrada com os demais bens do defunto, nenhum destino se lhe havia dado ainda.

— É, e não é arriscado dormir lá - disse Lourenço, como se praticasse consigo mesmo. Quem é que há de pensar que eu vou dormir no engenho? Ainda que soubessem que eu já estou em Goiana, ninguém havia de me julgar com a coragem de ir recolher-me na casa grande, quanto mais não havendo quem saiba que eu cheguei. Em vez de arriscado, eu acho até que é o lugar mais seguro que possa encontrar por aqui para estar. Nunca ninguém há de ir lá em minha procura.

Lourenço quebrou as varas do cercado, para que o cavalo pudesse passar, e, logo que lhe pareceu estar longe a cavalgada atravessando a estrada, tomou para a casa grande.

Chegando aí, estranhou quase tudo o que viu. Nada há que desfigure tanto os lugares destinados à habitação do homem como deixá-los por algum tempo sem habitador, porque tomam conta dele outras habitantes de diversa natureza, tomam conta dele os