Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/199

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matos, os musgos, as parietárias, os bichos peçonhentos: a situação demuda-se: as paredes amarelecem ou enegrecem: aqui escalam-se, acolá embuçam-se nessa vegetação parasitas que estendem os seus domínios mais depressa pelas regiões onde pisou o pé, ou pousou a mão humana, do que nas regiões virgens em que plantas mais fortes e avultadas não lhe dão lugar à invasão.

À roda da casa nascera um jerobebal espesso, em cujo fechado poderia esconder-se, não só um homem, mas muitos homens; dentro dele, em caso de aperto, ainda mesmo de dia, Lourenço poderia ocultar-se com o cavalo, sem receio de ser descoberto, a não haver suspeita ou denúncia que determinassem busca minuciosa.

O seu primeiro passo foi para a estrebaria.

— Ponho aí meu cavalo, e deito-me perto dele. Uma noite passa depressa.

Assim fez. A porta da estrebaria estava encostada, mas não trancada. A invernada tinha esburacado as paredes do lado norte,e pelos buracos penetrava no interior a escassa luz da lua cheia, que mal deixava distinguir os objetos, dando-lhes feições que infundiam pavor.

Lourenço pôs o cavalo a comer na longa manjedoura deserta um pouco de milho que trouxera do Cajueiro, e estendeu-se sobre uma tábua velha, junto da porta.

— O ladrão que entrar aqui há de primeiro pisar em mim, antes de pegar o cavalo.