Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/200

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Tentou dormir, mas não pôde. As sombras do aposento destinado a animais, e não a homens, lançavam-lhe vagos temores no espírito. De um e outro lado ouvia silvos de cobras. Pesados sapos saltavam-lhe por cima do corpo, aumentando a intensidade das impressões desagradáveis. O mau cheiro das emanações deletérias que se desprendiam de restos de matérias corruptas por tantos meses retidas naquele pequeno espaço, onde o ar não girava livremente, começou a produzir no hóspede tonturas e náuseas, que o determinaram a mudar de pouso.

Pensou então em pernoitar no sobrado. Mas havia de deixar o cavalo sem defesa? Ainda se a estrebaria pudesse trancar-se...

Levando a mão à porta, deu ai com a chave na fechadura.

— Ora bem! disse com satisfação. Fechada a porta, já não será tão fácil furtarem o animal. Qualquer barulho me despertará, e em dois saltos estarei cá embaixo.

Lourenço deu a volta à chave, que tirou. A porta era segura. Não se podia por dentro com duas razões.

Rodeou a casa, não sem as devidas cautelas, e vencida a escada de tijolo, parou à porta de entrada, entre as três janelas da direita, e as outras três da esquerda, que davam ao sobrado o aspecto de um convento. Pela entrada principal não podia abrir