Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/201

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caminho, visto que estava trancada; mas, com a força das chuvas, ou da ventania, fora aberta a primeira janela da direita, para a qual não era difícil passar do peitoril de pedra e cal com que terminava o longo plano de parede que ladeava a escada, sem esforço pôde ele alcançar o batente, e saltar dentro.

A sala, onde se achava, era a destinada às mulheres. Penetrando aí, sentiu-se tomado de instintivo respeito, porque pouca vezes em vida do sargento-mor tivera ocasião de chegar até o aristocrático aposento de D. Damiana, e sempre que nele entrava, era seguido de todos os escrúpulos que a nobreza e a representação da gentil senhora impunham aos que mais ou menos dependiam de sua casa.

A admiração do rapaz foi ainda maior quando notou que a mobília nova, comprada por João da Cunha para ocupar o lugar da que fora arremessada de cima do pátio do engenho e aí entregue às chamas pelo bando do Tunda-Cumbe dois anos antes, estava no mesmo lugar em que a vira pela última vez. O santuário, o estrado, o bufete de D. Damiana faziam nascer a ilusão de morar ela ainda na sua casa, longe de qualquer constrangimento, e ainda menos penúria. O seqüestro parecia não ter tido senão um fim - o de humilhar a viúva e o nome do orgulhoso membro da nobreza.

Bem depressa porém outras foram as impressões.

A luz do luar, alongando-se pela sala em forma de