Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/202

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um vasto lenços da largura da janela, mostrou-lhe a porta da alcova aberta, e lá dentro um vulto de grandes dimensões que aparecia, como uma larga mancha escura, no fundo da parede. Era a cama do casal ausente. do casal que nunca mais se de juntar havia ali, cama altaneira, ao paladar do tempo, para a qual se subia por degraus. Estava nua, mas tinha o estrado em ser.

Lourenço parou defronte dela: contemplou-a por instantes; chegou a comover-se. Aquela armação parecia-se mais com uma eça do que o teto de um leito onde a tranqüilidade e o repouso deveram ter dado momentos de suave satisfação. Os bons tempos tinham passado por cima daquela árvore de felicidade, tinham-lhe levado os adornos e elegância, filhos da posse e condição dos cônjuges, e tinham-lhe deixado os ramos nus, secos e desgraciosos, representavam o arcabouço da passada existência, outrora vestido de lençaria, sedas e damascos, agora mal coberto por tecidos de outra espécie - os que fabricavam no escuro e no silêncio as aranhas, essa industriais dos bairros despovoados. Era a imagem viva do casal já desfeito em parte pela morte. Figurava a viúva reduzida à extrema pobreza, desataviada, recolhida, em escuro canto e condição. Tudo o que fora grandeza e soberba desaparecera com o finado consorte.

Logo que se desvaneceu esta primeira impressão que não podia durar muito, porque o momento não era