Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/211

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Vaga impressão de satisfação sentiu a viúva, descobrindo o rapaz. Durante a noite, sem que ela o quisesse. pensara mais de uma vez nele. Fora triste a sua principal idéia. Temia que lhe acontecesse qualquer desastre. Se o prendessem, que seria dela e das outras mulheres?

O seu semblante, talvez por isto, talvez por nascente interesse que a ia prendendo ao rapaz, traiu o prazer íntimo que a vista dele produzira nela. Quanto a Lourenço, trazia no rosto uns longes de palidez, nos olhos brilho único e a modo de amortecido que lhe não eram usuais.

— Bom dia, sinhá D. Damiana - disse ele à viúva.

Esta, sem se poder dominar, já tinha dito antes:

— Graças a Deus que te vejo, Lourenço.

— Por que diz vosmecê esta palavra?

— Porque... porque estes tempos estão cruéis. A gente deita-se livre, e acorda na prisão.

— Teriam andado aqui em busca de mim?

— Não, porque não sabem talvez que está no Cajueiro; mas, a idéia de que andam nas tuas pisadas, não me deixa o espírito. A cada canto parece-me ver inimigos e perseguidores.

Lourenço mostrou-se satisfeito com estas palavras, que acusavam da parte da viúva solicitude para ele.

E como sem consciência, tornou irresistivelmente:

— Eu também levei toda a noite pensando em sinhá D. Damiana.