Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/214

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nobres pelos matos, suas mulheres, suas filhas e famílias em triste desamparo, o Camarão e o Tunda-Cumbe roubavam nas campanhas, matando cada qual por sua parte bois, vacas e criações, e corriam e revolviam os interiores mais recônditos das casas principais de Pernambuco, sem cortesia, nem respeito às suas donas". [1]

D. Damiana mal pôde resistir ao golpe de lhe tirarem a escrava. Tinha visto, cheia de coragem, ir-se toda a sua fortuna; mas aquele pequeno resto, que era quase metade da sua existência, atento o estado em que se achava posta, não pôde vê-lo desaparecer de seu poder, sem cair de cama.

O desacato, conquanto previsto, e a tristeza em que encontrou a senhora de engenho, sugeriram a Lourenço um pensamento que se deu pressa a realizar. A escrava foi logo arrematada por um senhor de engenho dali perto. Com ele entendeu-se Lourenço; e com o dinheiro que lhe dera o padre, e um pouco das economias destinadas por Marcelina para a compra de um sítio, recomprou a Felícia. É inútil dizer da satisfação de D. Damiana, ao ver entrar novamente em casa a sua escrava de estimação.

— Obrigada, obrigada, Lourenço, disse, sentindo algumas lágrimas umedecer-lhe os olhos. Restituíste-me uma parte da minha tranqüilidade, do meu sossego.