Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/219

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tão bonitas: o rapaz vivia encantado pela companhia. A viúva, do seu lado, gostava de ver o rapaz, cujo rosto adquirira grandes atrativos; gostava de admirar nele uma grande ânimo.

Tanto em um como no outro, o que havia, quando assim se embebiam em mútua e branda contemplação, não era senão amor; mas esse amor não sabia como se declarar; era um amor original - receio e respeito de um lado, superioridade, altivez, gratidão do outro. Era um amor que ainda não havia amadurecido - eis a verdade.

Lourenço fora feliz naquela manhã, porque, da conversação com D. Damiana, notara de parte dela menos altivez, mais benevolência. mais intimidade, e certas revelações de ternura que, conquanto sem a penetração que a educação gera ou aguça, o rapaz interpretou como a confissão tácita de lhe ir dando posse do seu coração.

Vinha ele absorto na consideração de tão grande bem, quando, pela terceira vez, descobriu Marianinha no ponto sabido.

De chofre, passando da satisfação ao dissabor, apressou o passo para aquele lugar. A sua exaltação revelou-se-lhe tão vivamente no rosto, que a rapariga tremeu imediatamente do passo que tinha dado.

Lourenço não pôde dominar-se. Os seus instintos animais, tanto tempo adormecidos, acordaram impetuosos, e ofuscaram-lhe, por assim dizer, o