Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/226

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o costumado imposto. "As boas festas que Luís Brás dá aos presos nas ocasiões e dias delas, é convidá-los para grilhões, inventando novas ordens para botá-los, a fim de haver por este modo, em câmbio, moedas d'ouro, porque mais que este, valem em sua mão os ferros". A este cão da porta do inferno, porque inferno é a prisão das Cinco-Pontas, paguei eu o tributo extorquido pela fereza e perversidade. Provei dos seus grilhões, enchi-lhe do meu ouro as mãos. A carta que escrevi à prima, participando o falecimento de seu marido, custou-me seis moedas d'ouro. As pernas, trago-as ainda inchadas do tormento infernal, mais rendoso que um engenho ou uma fazenda. Imagine a prima, pelo que rapidamente lhe estou narrando, o que não padeceram as onze vítimas que compuseram a primeira remessa para Lisboa, o que padeceram André Dias de Figueiredo, Bernardo Vieira de Melo, Cosme Bezerra, Cosme Bezerra Cavalcanti - nosso primo, João de Barros Correa, José Tavares de Holanda, Leonardo Bezerra Cavalcanti, Lourenço da Silva e Manoel Bezerra, ilustres mártires em que o governador e os infames ministros primeiro ensaiaram a sua sanha.

D. Damiana escutava, atenta e comovida, esta rápida relação dos padecimentos infligidos aos nobres pelos instrumentos do governador. Por vezes benzia-se, de assombrada do que ouvia, e em que dificilmente queria crer.