Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/232

Wikisource, a biblioteca livre

r saber o que me parece verdadeiramente misteriosos e incompreensível: É a sua indiferença às relações da família; é o seu desapego aos afetos que sempre lhe tiveram os seus parentes, e, entre estes, eu sobre todos.

— Mas, quem lhe disse, Amador, que sou indiferente à sua benevolência, às relações da nossa família? Será prova de desamor querer viver no retiro?

— Não, é o retiro o que se lhe pode estranhar, prima. É natural que, havendo perdido aquele a que, deve o seu maior lustre, busque ocultar do mundo as suas lágrimas. O que não é natural é que você troque pela proteção que lhe devem os parentes, a que, por caridade, lhe dão humildes estranhos. Isto é inexplicável. Atente bem nisso, prima. O mundo tem mil bocas maldizentes. Vendo você viver às costas de uma família anônima e pobre, o mundo há de ter para mim os maiores baldões. Não há de faltar quem diga que, à baixeza minha, e não ao seu capricho na realidade difícil de compreender, se deve o fato de ficar você vivendo de esmola, quando eu disponho de largos meios.

D. Damiana foi sentar-se mais perto de Amador.

— Amador, disse-lhe com voz suplicante, que interesse tem você de privar-me de uma ilusão que me resta na vida? Quero ter toda a franqueza para você. Tudo o que acabou de figurar, já me tinha passado antes pelo espírito. O que o mundo poderá dizer de mim, já o ouvi eu da minha consciência. Mas, Amador - por que