Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/234

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seria a minha, se eu fosse tão fácil em retroceder, quanto foi fácil à senhora adiantar-se: como irmão desse nobre, tenho o dever de afastar de sobre o seu nome uma mancha iminente. Se eu não procedesse assim, seria mais vilão que o vilão que, valendo-se da adversidade de uma senhora para quem nunca jamais devera erguer as vistas, pode lançar no coração dela germes fatais, de que se geraram serpentes peçonhentas.

—A sua intenção é oculta, Amador. Seja claro.

— Já compreendi tudo, sra. D. Damiana; de tudo fui sabedor: o mistério de há pouco, penetrei-o. Aquele que morreu mártir de sua nobreza, vai ter um sucessor que nem apelido tem. Os mascates não calcularam com esta vingança, que muito mais os deve alegrar do que a própria morte do sargento-mor João da Cunha. A viúva deste nobre será amanhã mulher de um ente anônimo, que percorre as estradas de Pernambuco, descalço e maltrapilho, vendendo os seus serviços por muito menos dinheiro do que vendia outrora os seus a Tunda-Cumbe.

— Meu Deus! Que está dizendo, Amador! Que fiz eu, que autorize a formar de mim este conceito? O senhor ofende-me sem razão. Não preciso das suas lições para saber respeitar-me.

— Se esta desgraça houvesse chegado ao meu conhecimento, antes de me ver outra vez livre, eu diria que Deus resolvera extinguir de todo a nobreza de Pernambuco,