Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/253

Wikisource, a biblioteca livre

Com um grande séquito de conterrâneos seus, fora esperar e receber o caudilho em Afogados, ao som de fagotes e chamarelas. No momento de Miguel lançar ao pescoço do Coração uma medalha em festão lavrada de ouro, Maciel, não querendo ficar atrás, desabotoou o talabarte donde pendia vistoso espadim de bainha de ouro, e cingiu com ele o chefe caboclo. Ao passar pela rua onde morava, alcatifada como se houvera de receber um monarca, ou um benemérito da humanidade, foi a mulher de Maciel, que de cima das suas janelas adornadas com tapeçarias as que mais custosas ostentava, foi a mulher desse europeu a que mais água de Córdova, mais flores, mais confeitos e mais moedas atirou em honra do Camarão. Foi ela a que, descendo da sua morada até a rua, obtida permissão do marido, correu e abraçou o chefe caboclo, que arrogante e ancho de tão estrondosa recepção ostentava à frente dos seus quatrocentos índios, a bizarria de um guerreiro e a altivez de um ditador.

Não lhe faltando meios, porque ele era negociante sólido, não lhe faltando estímulo, porque a maioria dos seus conterrâneos, reconhecendo de quanto era capaz, lisonjeava a sua vaidade, e o incitava a praticar os maiores desdéns para os nobres, disse um dia, no fim de um jantar opíparo, em um dos sobrados da rua dos judeus, que lhe havia de ser o seu Gregório quem daria com o esconderijo de Falcão d'Eça, e quando não pusesse as algemas neste rebelde, havia de tirar-lhe a