Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/258

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quiri, denominação dada por Falcão a outro arraial que ficava distante, cerca de três quartos de légua, do que desamparavam. Devia chegar lá ao amanhecer, depois de atravessarem vários arraiais, donde iriam coligindo as forças esparzidas na vasta massa dos bosques. Esta era uma estratégia que o chefe praticava sempre que se pressentia ameaçado - concentrar em um só ponto os vários contingentes.

A noite estava medonha, assim pela escuridão, como pelo tempo, que não suspendera.

Falcão ia na frente. Ninguém sabia, como ele, as sendas amigas. Intrépido e hábil, não havia matos, lamas, barrocais, desfiladeiros, precipícios, que lhe retivessem a marcha por perigosos ou desconhecidos. Às vezes, deslizava-lhe o pé nas folhas umedecidas, ou na argila escorregadia, e ele vinha em terra; mas logo se levantava, e seguia, sem proferir uma palavra que, ao menos e longe, indicasse indecisão ou desânimo.

Os outros acompanhavam-no quase instintivamente como autômatos. Os que eram mais sabedores dos caminhos conduziam os menos práticos, dando-lhes a extremidade de uma vara, e pegando na outra extremidade, como usam os guias com os cegos.

Era de singular efeito a vista oferecida, de tempos a tempos, por aquele longo cordão de figuras silenciosas em que se notavam semblantes de todas as feições, ao fuzilar dos relâmpagos nas abertas dos matos, ou ao clarear dos vaga-lumes no mais fechado. Uns de bota,