Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/259

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outros descalços, todos, escorrendo água e tiritando de frio, lembravam, em parte, o tropel de fugitivos que no século XVII, deixando o Recife e as estâncias vizinhas, que haviam caído no poder dos holandeses, caminhavam a pé, na direção do sul, em demanda das Alagoas, por escapar aos vencedores.

O Rancho do quiri, que tomava a sua denominação de ser o lugar muito abundante daquela madeira, ficava quase no fim da mata, à beira de uma baixada, que com as grossas chuvas se mudara em vasto lago mediterrâneo.

Estavam ali os refugiados mais próprios para entrar em fogo, os de fibra rija, pela vida áspera que tinham levado antes. Compunham-se, em sua maioria, de moradores e foreiros, dedicados aos senhores do engenho. Quase toda esta gente, passante de cem indivíduos, se sustentava de caça e frutas agrestes. Uma vez por outra, saíam alguns do esconderijo, e nos povoados mais próximos iam prover-se de farinha e bebidas, ou iam buscar nos engenhos, onde tinham famílias, outras provisões; o mato, porém, era o seu principal fornecedor, agora lhes dando a paca, o tatu, a cutia, o preá; agora o jacu, a juriti, o nambu, pato bravo; agora o ananás, o inhame, a mangaba, o caju.

Às vezes saíam a pescar à noite, nas lagoas perdidas no interior da espessura; era para ver como tarrafeava habilmente o que se supunha, à primeira vista, não