Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/262

Wikisource, a biblioteca livre

as forças, enfraquecidos os espíritos, recebia em silêncio, mal se sustentando de pé, e por último caído por terra, as varadas brandidas pelos vigorosos pulsos africanos.

Era a isto que se chamavam roda de pau, castigo muito praticado naqueles tempos, por naturais de Pernambuco, especialmente contra os portugueses europeus.

Vários alvitres tinham sido indicados, várias penas propostas, entre as quais a do saco de areia, hoje inteiramente desusada, como a da roda de pau.

A surra de saco de areia ligava-se a uma superstição: o povo acreditava que o paciente de semelhante suplício não declarava, em caso de nenhum, o nome do ofensor. Era castigo aplicado a culpas graves, e consistia em longo estojo de lona cheio de areia fina bem socada, que, tanto pela forma, como pelo tamanho e dureza, se parecia com um cacete. À circunstância de ter no fundo uma moeda de cobre e uma rodela de fumo, invenção da superstição do povo ignaro, atribuía este a especial virtude de impor silêncio ao que com ele era castigado, e que, por muito moído em todo o corpo, mui raras vezes sobrevivia ao castigo.

Quando no rancho foi indicada a surra de saco de areia, para a punição do espião, um dos matutos observou, em tom de chalaça:

— Isto é lá para a beira da praia, onde não há madeira forte; não é para aqui, onde não falta quiri nem pitiá, e só temos barro duro, e não areia fina.