Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/285

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publicidade, quando não é desta, mas da minha gaveta, ou da sua sindicância, sr. desembargador, que ele mais deve recear.

— No meu canhenho está ele, disse o Cutia; e não se meterá de permeio uma semana que eu não lhe mande bater à porta.

— Agora talvez já não seja tempo, observou o governador.

— V. exa. sabe melhor do que eu que todo tempo é bom para se inquirir de um crime.

— Menos, ajuntou o governador, quando crimes maiores acabaram de ser perdoados, e réus de lesa-majestade são mandados soltar pela própria majestade.

À estas palavras do governador, que em outro círculo de que não fizessem parte o Cutia, o Bacalhau e o frei Estevam, teriam cortado pela raiz a questão, seguiu-se um momento de profundo silêncio, mas não todo o silêncio que deviam produzir.

O Cutia, quando julgou que era tempo de tornar ao grave objeto que ali os trazia juntos, disse:

— Mas perdoe-me v. exa.: o sr. governador está no ânimo de fazer cumprir as vontades de Antonio de Albuquerque?

— O que se há de cumprir, sr. desembargador sindicante, é a ordem de el-rei, respondeu Félix José Machado.

Novo instante de silêncio sucedeu a esta decisiva